Vertigem no mergulho
Tema: Vertigem no mergulho
Fonte: http://www.aquaclube.com
Autor:
Tradutor:
Data: Jul./2006
A vertigem é sem dúvida a causa mais
dramática de desorientação subaquática, e consequentemente uma situação
perigosa tanto para o mergulhador atingido como para o seu companheiro.
É importante distinguir a vertigem das
várias situações relacionadas com distúrbios do equilíbrio, como o
enjoo, tontura, desequilíbrio, desmaio, cambalear, etc.. Por vertigem
entende-se a situação na qual se verifica uma alucinação de movimento,
resultando quer da impressão de que os objecto rodam numa certa direcção
(vertigem objectiva), quer da impressão de que nós rodamos numa certa
direcção (vertigem subjectiva).
A vertigem aparece geralmente associada a
nistagmus (movimentos rápidos dos olhos), e pode ser provocada tanto por
uma estimulação diferente (à esquerda e à direita) do sistema
vestibular, como por uma diferente resposta do mesmo.
Facilmente se entende que a vertigem pode
ser um problema muito mais sério no mergulho em apneia do que no
mergulho com escafandro (garrafa) onde, para além de haver um
fornecimento de ar que permite a respiração enquanto a vertigem dura,
também permite mais pontos de referência para orientação, nem que seja a
direcção que tomam a bolhas do ar expirado.
A maioria das vertigens que aparecem no
mergulho são transitórias e de curta duração, sendo de fácil resolução
desde que se percebam os factores que as desencadearam. Mesmo assim
podem ser perigosas por causarem desorientação.
Se a duração das vertigens for muito longa
ou persistente, se aparecerem algum tempo após ter mergulhado, em vários
mergulhos consecutivos ou se começarem a ser frequentes mesmo que de
curta duração, deve consultar um médico.
VERTIGEM POR DIFERENTE ESTÍMULO VESTIBULAR
A exposição ao ambiente de mergulho e
variações de pressão, geralmente atinge os dois ouvidos com iguais
valores. Contudo isto pode não acontecer, por exemplo, quando há um
problema no ouvido externo ou no ouvido médio, que vá originar uma
diferente estimulação entre o lado esquerdo e o direito. Nesta situação
o maior efeito estimulante de um lado vai desencadear uma vertigem.
Ao mergulhar, geralmente os dois ouvidos
são atingidos por igual fluxo de água fria, com a mesma temperatura.
Mas se um deles receber um estímulo diferente do outro, então irá
desencadear-se uma vertigem, que será de intensidade e duração
proporcional à diferença entre os estímulos.
Isto pode verificar-se, por exemplo,
quando há uma obstrução parcial de um dos canais auditivos ou uma
pequena perfuração de um tímpano.
Contrariamente ao que acontece nas
vertigens por estímulo calórico, as provocadas por barotraumatismo
são mais frequentes com a pessoa na posição vertical de cabeça para
cima.
Podem descrever-se cinco tipos de
diferentes de barotraumatismos relacionados com as vertigens. Todos
eles são dependentes das variações de volume com a pressão, de
acordo com a lei de Boyle Mariott.
Da descida no ouvido externo
Esta situação desenvolve-se devido a uma
obstrução do canal auditivo externo impedindo a água de preencher o
espaço ocupado pelo ar aí existente. Geralmente pode relacionar-se
este barotraumatismo com uso incorrecto de gorros muito apertados,
rolhões de cera, uso de tampões auriculares, pré-exitência de uma
otite externa, etc.
Da descida no ouvido médio
Quando o mergulhador faz uma má
compensação das pressões do ouvido médio (ou não faz) durante a
descida, geralmente aparece uma hemorragia que preenche essa
cavidade, podendo sentir de seguida uma vertigem.
Caracteristicamente esta vertigem
desenvolve-se durante ou imediatamente após a descida e é
acompanhada de uma surdez passageira, contudo os casos que também
envolvem o ouvido interno são mais graves e persistentes.
Do ouvido médio na subida
É provavelmente a situação mais
frequente de vertigens nos mergulhadores. Durante a subida, o
equilíbrio de pressões no ouvido médio faz-se de forma passiva, ou
seja, à medida que a pressão vai diminuindo o ar dentro deste espaço
vai aumentando de volume e vai escapando pela Trompa de Eustáquio.
Quando alguma das Trompas tem mais
dificuldade em deixar sair o ar, vai aparecer uma diferença de
pressão no interior dos ouvidos que estimula o sistema vestibular
desencadeando uma vertigem. Esta situação é mais frequente entre os
12 e 5 metros de profundidade, por ser aí que se verificam maiores
variações de pressão (partindo do princípio que se mantém constante
a velocidade de subida).
Este desequilíbrio de pressões pode ser
acompanhado de dor, e todos os mergulhadores aprenderam a lidar com
esta situação, fazendo uma paragem na progressão da subida, fixando
um objecto (profundímetro, por exemplo), e aguardando até sentirem o
ar a sair pela Trompa com consequente desaparecimento da vertigem.
Em alguns casos, o simples facto de
efectuar uma Manobra de Valsava forçada pode desencadear uma
vertigem, provavelmente por existirem Trompas de permeabilidade
diferente, deixando entrar diferentes quantidades de ar, o que vai
facilitar o aparecimento de diferentes pressões momentâneas no
ouvido médio.
Do ouvido interno
As lesões do ouvido interno
(traumatismos coclear, hemorragia, ruptura das membranas com ou sem
fístula da janela redonda ou da janela oval, com ou sem entrada de
ar para a perilinfa) são complicações graves que podem aparecer na
sequência de um barotraumatismo ou insuflação forçada do ouvido
médio.
Este tipo de lesões pode desencadear
vertigens, que são muito incapacitantes não só para o mergulho, mas
também para as actividades diárias como conduzir, voar, ou ocupações
envolvendo o balanço do corpo. Em alguns casos consegue-se alguma
recuperação pela cirurgia reconstrutiva, mas a maioria fica
definitiva pela impossibilidade de actuar no ouvido interno.
Estão descritos casos de vertigem
associados a doença de descompressão a nível do aparelho vestibular.
Estas situações são graves e aparecem geralmente na sequência de
mergulhos profundos, muitas vezes com misturas de hélio.
A formação de bolhas gasosas no aparelho
vestibular, para além da vertigem, pode desencadear também um certo
grau de surdez, necessitando de tratamento rápidos em câmara de
descompressão, caso contrário as lesões por elas provocadas podem
tornar-se definitivas.
Este problema consiste no
desencadeamento de vertigens provocado pelo som. Está provado que
sons com frequências entre os 200 e os 2500 Hz e com intensidades
entre os 120 e 160 décibeis, podem desencadear uma vertigem.
Os mergulhadores podem sofrer deste
fenómeno em situações particulares, por exemplo, quando se
encontrarem com sonares, em imersões com capacete de mergulho.
VERTIGEM POR DIFERENTE RESPOSTA VESTIBULAR
Neste grupo incluem-se as pessoas em que a
vertigem pode aparecer como resultado de uma diferente resposta do
aparelho vestibular a um estímulo igual, ou seja, têm um aparelho
vestibular mais sensível que o outro.
Como facilmente compreendemos, a vertigem
pode aparecer por diferente resposta vestibular a várias situações.
Em pessoas com os ouvidos perfeitamente
normais, que fazem descidas perfeitas, sem qualquer dificuldade em
compensar, por vezes aparecem vertigens ao fim de alguns minutos de
mergulho. Quando a situação se repete em vários mergulhos
consecutivos, efectuados nas mesmas condições, o mais provável será
tratar-se de uma diferente resposta do aparelho vestibular à descida
de temperatura originada no contacto com a água.
Nos indivíduos com lesão vestibular por
barotraumatismos antigo, como acontece com caçadores que têm
geralmente algum grau de surdez de um dos ouvidos, o sistema
vestibular pode responder de forma diferente às variações de pressão
da subida e descida, embora a pressão que se verifica num dado
momento seja igual nos dois ouvidos, desencadeando-se uma vertigem.
Como sabemos, a função cerebral pode ser
afectada de diversas formas pelos gases que respiramos, o que pode
traduzir-se por desorientação acompanhada de vertigens.
Em mergulhos a mais de 30 metros de
profundidade estão descritos casos de vertigens associadas à narcose
pelo azoto, que desaparecem com a subida, e portanto com a
diminuição das pressões deste gás.
A vertigem é um dos sintomas
relacionados com a toxicidade do oxigénio, aparecendo como sinal de
aviso sempre que a pressão parcial deste é igual ou superior a 2
ATA.
De igual modo, na sequência de uma
exposição a dióxido de carbono por períodos prolongados, podem
aparecer vertigens quando a pessoa volta a respirar ar ou oxigénio.
Os efeitos da hipóxia, hipocapnia,
intoxicação por monóxido de carbono, etc., bem como a exposição do
sistema nervoso a altas pressões são situações que geralmente
desencadeiam vertigens sem que exista qualquer problema no sistema
vestibular ou nos ouvidos.
Por fim, e talvez a causa mais frequente
de vertigens no mergulhador amador sem que exista qualquer lesão do
ouvido, é a privação sensorial. Principalmente quando atingidos os
sentidos de orientação espacial, como acontece no mergulho nocturno,
ou na imersão com péssima visibilidade, a redução dos estímulos
visuais de orientação podem desencadear ou agravar um quadro de
vertigens, o que é frequente nos mergulhadores pouco experientes.
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